Criar sátiras com gordo, gay, magro, baixo, alto, negro, branco ou com crenças como a umbanda ou espiritismo nunca foi motivo para criticas e xingamentos, agora vai lá fazer uma piada com os Evangélicos…

E foi exatamente o que o Porta dos Fundos fizeram em parceria com a Netflix.

Essa nova produção surgiu após o grande sucesso do primeiro filme, que foi ganhador do Emmy Internacional na categoria de melhor comédia com o especial de Natal “Se Beber, Não Ceie”, lançado em 2018 trazendo o mesmo elenco de sempre: Fabio Porchat, João Vicente de Castro, Antonio Tabet, Rafael Portugal e Gregorio Duvivier.

No novo longa da empresa em especial de Natal, o filme, “A Primeira Tentação de Cristo”, levanta a possibilidade de Jesus Cristo (Gregório Duvivier) ser gay e até introduz o seu namorado, Orlando (Fábio Porchat). Enquanto isso, Deus (Antonio Tabet) vive um triângulo amoroso com José (Rafael Portugal) e Maria (Evelyn Castro).

Nesse novo filme, Jesus aparece com um “amigo”, com quem passou os 40 dias no deserto: Orlando já chega chegando, abafando, abalando as estruturas e deixando, nas entrelinhas, que houve “algo mais” entre eles. Jesus, portanto, teria ali sua primeira experiência sexual com um homem.

O que foi suficiente para levantar a ira até mesmo dos religiosos não praticantes.

especial do Porta dos Fundos na Netflix 2

Após muitos cristãos terem expressado suas opiniões e dito o quanto tinham se sentido ofendidos com o filme, diversos políticos e líderes religiosos entraram na manifestação também pedindo que a justiça retirasse o filme do ar sobre a alegação que o especial “ofende gravemente aos cristãos e ao nosso senhor Jesus Cristo”. “Este filme é uma falta de respeito ao cristianismo e em especial a Deus”.

O abaixo-assinado foi criado não só no Brasil mas em diversos outros países, somando uma quantidade de mais 500 mil assinaturas em protesto, e também tem a premissa de que os usuários cancelem suas assinaturas na plataforma de vídeos.

O abaixo-assinado pede também a retirada do especial do ano anterior, Se Beber, Não Ceie, que traz os apóstolos acordando de ressaca após a Última Ceia e percebendo que Jesus havia sumido. No Brasil, uma série de petições com o mesmo tema foram criadas. A mais popular, iniciada por um usuário da cidade de Jundiaí (SP), já conta com mais de 102 mil assinaturas.

especial do Porta dos Fundos na Netflix

Mas mesmo assim com tanto alvoroço, a Justiça do Rio negou nesta quinta-feira (19) um pedido de liminar para que o especial de Natal do Porta dos Fundos fosse removido da Netflix. Segundo a decisão, assinada pela juíza Adriana Sucena Monteiro Jara Moura, não há motivos para que a obra seja retirada do ar.

especial do Porta dos Fundos na Netflix 3

Citando os artigos 5 e 220 da Constituição Federal, que tratam de liberdade de expressão, a juíza afirma que o “juiz não é crítico de arte”, e não encontrou no caso a ocorrência de crimes contra a religião, violação aos direitos humanos, incitação ao ódio ou discriminação.

“Ademais, também considero como elemento essencial na presente decisão que o filme controverso está sendo disponibilizado para exibição na plataforma de streaming da ré Netflix, para os seus assinantes”, escreveu a juíza na decisão. “Ou seja, não se trata de exibição em local público e de imagens que alcancem aqueles que não desejam ver o seu conteúdo. Não há exposição a seu conteúdo a não ser por opção daqueles que desejam vê-lo. Resta assim assegurada a plena liberdade de escolha de cada um de assistir ou não ao filme e mesmo de permanecer ou não como assinante.”

“Uma das principais lições ensinadas por Jesus é a da tolerância, sobretudo em relação aos pobres de espírito (e também aos ‘espíritos de porco’)”, escreveu a juíza Marian Najjar Abdo, da 1.ª Vara do Juizado Especial Cível de SP. “Entendo ausente o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. A liberdade de expressão, no presente caso, parece, de fato, ter sido utilizada de forma desvirtuada e abusiva, mas, em princípio, basta que o autor não assista ao programa em questão e até mesmo não mais mantenha contrato com a corré Netflix, em sinal de sua indignação.”

Pela liberdade de expressão do livre pensamento e da arte e pelo direito de escolha de cada cidadão repudiamos qualquer tipo de censura.

Apesar da polêmica, a Netflix e o Porta dos Fundos já confirmaram que também irá ser produzido um especial de Natal em 2020.

Assista ao trailer:

Afinal de contas:

com deus nao se brinca