“Um Lindo Dia Na Vizinhança” conta a história de Lloyd Vogel, um jornalista que recebe a tarefa de fazer o perfil de Fred Rogers, também conhecido como Mr. Rogers, criador de “Mister Rogers’ Neighborhood”, programa infantil de TV muito popular nos Estados Unidos.

Dois filmes em um

“Um Lindo Dia Na Vizinhança” usa a famosa figura de Fred Rogers, quase um herói nacional norte-americano, como escada para transformar a vida de seu protagonista. Mas, apesar do longa usar como base uma matéria real da Esquire, o filme ficcional nunca consegue tornar esse personagem interessante o suficiente.

Dessa forma, o que temos é um filme duplo, um relevante, emocionante e cativante e outro que mais parece um novelão, baseado em relações que caem para um melodrama, em que o exagero tira a possível força desta narrativa. O engraçado é que a parte que envolve Fred Rogers, vivido maravilhosamente bem por Tom Hanks, e se passa em muitos momentos em um cenário de TV é muito mais cinematográfica do que o seguimento sobre Lloyd Vogel (Matthew Rhys) e suas relações familiares.

E não me leve a mal, o problema não é usar Rogers apenas como instrumento de transformação, mas sim a falta de uma construção dramática mais eficiente para Vogel e sua família. A gente entende sua vida, a relação conturbada com o pai e o afastamento para com a esposa. Entretanto, tudo isso é feito de maneira tão superficial e clichê que pouco deixa o público se importar com o que vai sair dali.

Mas muito disso passa também pelo personagem e atuação nada carismáticos de Rhys. É possível construir um personagem pessimista sem que este seja insuportável. Porém esse não é o acaso, em momento algum eu senti qualquer tipo de empatia por Lloyd, pouco me importava se ele ia voltar a ter algum otimismo ou se ia conseguir se conciliar com o pai.

um lindo dia na vizinhança

Relação Rogers e Vogel

Por outro lado, tudo que envolve a relação entre os dois é cativante. Nesses momentos, Marielle Heller (Poderia Me Perdoar?) mostra como é uma diretora talentosa, brincando com a proporção da tela, traçando uma relação entre as maquetes e a realidade e construindo cenas impactantes e bonitas (destaque para o longo silêncio na cena da lanchonete).

Mas essa relação de opostos só funciona de verdade porque Hanks encarna Rogers de forma impressionante. Ao mesmo tempo que ele se parece com o apresentador, em sua bondade, otimismo e até em momentos mais íntimos de irritação (que nunca são externalizados), dá para ver também uma construção muito pessoal do ator.

Por isso, apesar do filme sofrer com diversas fragilidades, a indicação de Hanks como Melhor Ator Coadjuvante no Oscar é justíssima. Ainda assim, para quem se interessa por Fred Rogers, vale muito mais a pena assistir ao belíssimo documentário recente “Won’t You Be My Neighbor?”.

Nota: 6.5

Crítica em vídeo:

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: A Beautiful Day in the Neighborhood (Um Lindo Dia Na Vizinhança)
Data de lançamento: 23 de janeiro de 2019 (1h 49min)
Direção: Marielle Heller
Elenco: Matthew Rhys, Tom Hanks, Chris Cooper mais
Gêneros: Drama, filmes biográficos
Nacionalidade: EUA