Em “Never Rarely Sometimes Always”, uma adolescente de uma pequena cidade da Pensilvânia descobre que está grávida e procura assistência médica em Nova York, com a ajuda da prima.

O longa foi lançado nos cinemas americanos, mas não tem previsão de estreia no Brasil.

Sensível e importante

Parte da grandiosidade temática de “Never Rarely Sometimes Always” surge da ausência. Ao não vermos o ato que gerou a gravidez e nem sequer sabermos quem é o pai, o foco narrativo é direcionado para a jornada de Autumn. O problema passa a ser apenas dela e ela vai resolvê-lo da forma como julgar melhor.

Dessa forma também, Eliza Hittman engrandece a caminhada de sua protagonista ao não julgá-la. Pelo contrário, a diretora demonstra uma sensibilidade muito grande ao adotar um tom passivo e se preocupar muito mais com a dor da personagem e sua interação de parceria com a prima. Amizade essa capaz de gerar alguns dos melhores momentos que eu vi em 2020, como a das mãos dadas na pilastra.

Vale observar que Eliza não busca confrontar as visões contrárias em relação ao aborto diretamente. Se isso acontece é justamente por causa do desenvolvimento natural da protagonista e de sua dor. É uma menina de 17 anos sem amparo familiar e mal vista pelos colegas da escola graças a uma visão retrógrada da sociedade passada de geração para geração de que as mulheres devem “se dar o respeito”, enquanto os meninos são livres para fazer o que bem entender. Nesse sentido, a ausência do pai só demonstra como os homens saem impune em situações como essa, enquanto as mulheres são colocadas como as culpadas.

Então, quem somos nós para julgar a jornada de Autumn? Quem somos nós para dizer que ela não deve tomar esse caminho?

NEVER RARELY SOMETIMES ALWAYS

Never Rarely Sometimes Always

Assim, no brilhantismo da simplicidade, tanto da câmera de Eliza, cheia de closes e subjetividade, quanto de suas atrizes centrais, chegamos à cena principal e que dá nome ao filme. Filmada quase que completamente em um único plano do rosto de Autumn e ressaltada pela repetição das palavras “Never Rarely Sometimes Always”, a cineasta evoca uma abordagem realista de como as mulheres são julgadas por suas ações.

Mais do que isso, as perguntas partirem de uma personagem que quer ajudar a protagonista só revela que tal situação já se tornou uma normalidade. Não importa quantos anos têm uma mulher, ela sempre vai ser colocada em situação de extremo desconforto quando buscar ser livre para tomar suas próprias decisões. A extensa duração e ausência da montagem só aumentam o impacto de uma das cenas mais impactantes que eu vi no ano. Só é possível saber o que Autumn está sentido se estivermos na pele dela e é exatamente isso que a diretora traz ao nos aproximar da protagonista de tal forma, assim como ela, só torcemos para aquele momento passar logo.

“Never Rarely Sometimes Always” é um retrato sensível, naturalista e estarrecedor de uma questão feminina que deve ser discutida primeiro pelas pessoas mais afetadas: as próprias mulheres. Infelizmente, o filme estreou nos cinemas americanos exatamente na semana em que eles fecharam por causa da pandemia.

Nota: 8.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Never Rarely Sometimes Always
Data de lançamento: Sem estreia nos cinemas brasileiros
Direção: Eliza Hittman
Elenco:  Sidney Flanigan, Talia Ryder mais
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA