“História de um Casamento” conta a história de separação do diretor de teatro Charlie e da atriz Nicole. Inspirado na separação do diretor do filme com sua ex-mulher.

Um drama sobre separação

Desde o começo da carreira, Noah Baumbach se inspira muito nas obras do começo da carreira de Woody Allen e que lembra também muito dos filmes realistas de Richard Linklater. O foco nas relações humanas com uma pegada mais real e destaque para longos diálogos e cenas.

Porém, apesar de ser um diretor e, principalmente, roteirista bastante competente, faltava-lhe uma obra que realmente o colocasse no patamar dos melhores diretores do momento. Apesar de “Enquanto Somos Jovens”, “Frances Ha”, “A Lula e a Baleia” e “Os Meyerowitz” serem bons filmes, é apenas em seu novo longa que ele atinge seu auge e deve ganhar o reconhecimento merecido.

Aqui ele encontra um equilíbrio entre o realismo da separação de “Blue Valentine” e a crise no casamento de “Antes da Meia-Noite”, e adiciona um toque pessoal. Ao mesmo tempo que o filme é inspirado em sua traumática separação com a atriz Jennifer Jason Leigh, o diretor adiciona elementos de seu casamento atual, com a atriz e diretora Greta Gerwig.

E é por meio da mistura entre o realismo e o pessoal que o filme acha o seu tom. E, diferente de obras anteriores, ele não tenta ser mais complexo do que realmente é. Até porque, a separação de um casal com filho já é algo complexo o suficiente para se trabalhar.

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MARRIAGE STORY, from left: Adam Driver, Azhy Robertson, Scarlett Johansson, 2019. © Netflix / courtesy Everett Collection

Personagens e atuações

Dessa forma, o longa caminha bem ao não julgar os seus protagonistas, mas sim, humanizá-los. Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) parecem acima de tudo pessoas reais. E, como todo ser humano, cometem erros. Mas não é apenas nos erros que o filme vai focar. O roteiro nos faz entender os personagens por completo. Quem eles foram um dia, como se apaixonaram, quais são suas motivações e vontades e porque começaram a seguir caminhos distintos.

Ou seja, não há um grande vilão na história, fazendo com que os acontecimentos não pareçam forçados em nenhum momento. O que vemos nada mais é do que a vida de um casal que começou a buscar coisas diferentes para suas vidas.

Claro que vemos Charlie sufocando os gostos de Nicole e levando a vida do casal sempre para onde deseja, mesmo que ele mesmo não perceba isso. Por outro lado, vemos uma Nicole que muitas vezes não tenta estabelecer um diálogo e aos poucos se afasta mais ainda do marido. E, isso é algo que o longa faz tão bem, como muitas coisas poderiam ser resolvidas (ou não) com uma simples conversa, de ambas as partes.

O mais próximo que temos de vilões são os advogados, mas no fundo entendemos que eles estão apenas fazendo o trabalho deles. Até porque foi o próprio casal que contratou os profissionais. Enquanto Laura Dern nos convence com uma atuação forte e poderosa, impedindo a personagem de cair para o caricato, o mesmo não pode ser dito de Ray Liotta, que em seu pouco tempo de tela não consegue evitar o clichê.

Mas sem dúvida o show aqui fica por conta de Johansson e Driver, que não só seguram o filme como dão brilho a ele.

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Sintonia

E grande parte das boas atuações dos dois passa pela sintonia que eles encontram com a proposta de Baumbach. São pequenos gestos, frases pensadas que acabam não saindo da boca, olhares e sentimentos guardados. Tudo isso torna as performances o mais realista possível. É sem dúvida a melhor atuação da carreira dos dois atores.

Só que estas funcionam ainda melhor porque o diretor dá destaque para os atores, não tem medo de deixá-los brilhar. O mesmo vale para a bela trilha sonora de Randy Newman e para a cinematografia de Robbie Ryan. Ambas são bonitas e dão vida ao longa, mas também sabem se manter quietas quando todos olhos se voltam para os protagonistas.

Um bom exemplo disso é o monólogo de Nicole, que nos impacta ainda mais pela falta de cortes e de trilha. A gente sente aquilo na pele como se fosse verdadeiro. Já na briga entre o casal, o que vemos é a montagem apostar em mais cortes para justamente fazer esse tenso e emocionante “ping-pong” entre os protagonistas (algo que aparece também no roteiro ao dar o mesmo tempo e desenvolvimento para os dois).

Enquanto isso, em outros momentos, vemos Baumbach buscar o seu estilo de outras formas, muitas vezes com planos longos para realçar esse aspecto de cinema quase documental, e em outros momentos se aproximando aos poucos dos protagonistas, para nos fazer entrar dentro do pensamento deles.

Destaque também para o belo trabalho de encenação que passa pela direção e por todo o elenco, tendo seu ponto alto na cena da intimação, quando Charlie vai para Los Angeles pela primeira vez.

Portanto, o que vemos aqui é um Baumbach muito mais maduro como roteirista e diretor, abandonando excessos e discursos, e focando em um filme mais humano, tocante e com um realismo que fará muito casal chorar.

Nota: 9.5

Crítica em vídeo:

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Marriage Story (História de um Casamento)
Data de lançamento: 06 de novembro de 2019 (2h 20min)
Direção: Noah Baumbach
Elenco: Scarlett Johansson, Adam Driver, Laura Dern, mais
Gêneros: Drama, Comédia
Nacionalidade: EUA