“Era Uma Vez Um Sonho” conta a história de um jovem pobre que sofre com uma infância difícil, mas consegue se tornar um adulto bem-sucedido.

O filme está disponível na Netflix.

Oscar Bait que deu errado

Baseado em um livro best-seller, que, por sua vez, conta uma história real, “Era Uma Vez Um Sonho” é um daqueles filmes que não só se encaixam na definição Oscar Bait, como não conseguem ser nada além de um filme que quer parecer atrativo para premiações. São muitos os casos de obras semelhantes ao longo dos anos, algumas delas até conseguindo sucesso em premiações, como os recentes e fracos “Green Book”, “Bohemian Rhapsody” e “Ford v Ferrari”. É claro que nem todo Oscar Bait é necessariamente ruim, há sim filmes pelo menos razoáveis que se encaixam nesse padrão, como o vencedor do Oscar “O Discurso do Rei” (apesar de seu péssimo diretor).

Só que de todos os Oscar Bait já feitos, “Era Uma Vez Um Sonho” é sem dúvida um dos piores. Além da tortura que é assisti-lo durante duas horas, terminei o longa me perguntando “qual é o objetivo desse filme?”. Ou melhor, “qual é o objetivo desse filme além de fazer de tudo para estar no próximo Oscar?”.

Aqui temos o pacote Oscar Bait completo: história inspirada em fatos reais, melodrama, caracterização de personagens repleta de maquiagem e penteados exagerados, atuações hiperestilizadas com direito a sotaque carregado e muitos gritos, trilha sonora ultradramática, fotografia que aposta em closes dramáticos constantes, entre muitos outros recursos. Tudo é exagerado, é quase como se a cada cena Ron Howard buscasse construir um momento capaz de servir às suas atrizes como o vídeo a ser passado no Oscar quando elas fossem indicadas.

Critica Era Uma Vez Um Sonho Netflix 2

Entretanto, o problema é que o filme não funciona pelo simples fato de nada ter construção. Os personagens são unidimensionais e caricatos, as motivações são inexistentes ou genéricas, e praticamente tudo termina como começou. E, justamente por isso, toda a tentativa de construir um melodrama soa apenas forçada, porque a gente não se importa com aquelas pessoas. Pior que isso, os personagens são tão insuportáveis que criam antipatia ao invés de empatia, o que torna ainda mais difícil essa aproximação do público para com suas vidas. Não adianta a Amy Adams gritar a cada cena que aparece ou o Gabriel Basso ficar com cara de que não sabe o que fazer, isso é incapaz de provocar qualquer reação desejada no espectador. Nem Glenn Close consegue fazer muita coisa com o que o roteiro proporciona a ela.

Só que, no fim, tudo isso acaba sendo reflexo de uma falta de história. Ao alterar totalmente o livro para evitar o teor político do material original, o longa simplesmente fica sem nada de interessante para contar além de uma visão preconceituosa e recorrente sobre o que é ser pobre no interior dos Estados Unidos. E a tentativa de criar uma estrutura de vai e vem, recheando o enredo com flashbacks que teoricamente deveriam ter relação com o presente, só torna a obra mais inchada, episódica e cansativa. Pois os flashbacks pouco acrescentam aos personagens ou à tentativa frustrada de uma temática social mais relevante.

Dessa forma, nada funciona em “Era Uma Vez Um Sonho”, porque o filme estava mais preocupado em fazer parte do próximo Oscar do que em contar uma história interessante com personagens minimamente bem construídos. Em um filme em que nem Amy Adams, Glenn Close e Hans Zimmer são capazes de desempenhar um bom trabalho, tudo está muito errado.

Nota: 2.5

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Hillbilly Elegy
Data de lançamento: 24 de novembro de 2020
Direção: Ron Howard
Elenco: Gabriel Basso, Amy Adams, Glenn Close
Gêneros: Melodrama, drama
Nacionalidade: EUA