“Ema” conta a história de um casal que adota um garoto, mas devolvem o filho para adoção após ele ter atitudes reprováveis. Então, o longa vai acompanhar o drama dos dois após a ausência do menino.

Simbolismos e visual

Dirigido por Pablo Larrain (“No”, “Jackie”), “Ema” é o filme mais restritivo da carreira do bom diretor chileno. A obra já se mostra subversiva ao não apresentar visualmente o principal elemento da história. A narrativa começa com o casal sofrendo por uma perda anterior à projeção: a rejeição de seu filho, que só conhecemos muito tempo depois.

Apesar de centrado em uma protagonista forte e em uma construção dramática satisfatória, o longa está muito mais interessado em adentrar o íntimo dos personagens por meio de simbolismo e pela música do que com uma grande história. Em muitos momentos, a obra não tem medo de abandonar o avanço dos acontecimentos em prol de planos altamente sensoriais.

Não à toa, o longa começa com um semáforo pegando fogo e já marca as três cores que dominam o longa: verde, vermelho e amarelo. O mesmo vermelho é fortemente marcado no rosto de Gastón (Gael García Bernal), logo em sua primeira aparição no longa, o que mostra que o filme imediatamente o coloca como o vilão da história, já que a Ema (Mariana di Girolamo) o vê como culpado pelo abandono do filho, mesmo que isso não seja inteiramente verdade.

Entretanto, não apenas as cores que são carregadas de simbolismo, a música aparece como figura central no longa, uma mistura de corpos e movimentos que representam a libertação daqueles personagens. É por meio da dança que o filme começa a conversar com outro tema importante que percorrerá mais de metade da projeção: o sexo. Ou melhor, a liberdade sexual e o rompimento com valores tradicionais.

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Poesia x trama

Dessa forma, o longa rompe também com a narrativa clássica e é por isso que o considero bastante restritivo. A poesia fala mais alto do que a trama. Em muitos momentos, somos levados para uma espécie de videoclipe, com cores artificiais e movimentos coreografados.

Ainda que a ideia de Larrain seja construir a narrativa por meio de simbolismos e sensações, é necessário um pouco de paciência para se engajar com toda a projeção. É quase impossível se manter conectado com os personagens, principalmente porque esses não são construídos para provocar empatia no espectador, muito pelo contrário, é possível que boa parte do público não goste realmente de ninguém que está em tela.

Então, “Ema” se apresenta muito mais como uma experiência sensorial e visual do que como um filme preocupado em contar uma história. Entretanto, o controle de Larrain faz com que o longa seja coeso e visualmente desconsertante ao criar um universo artificial poderoso e rico em simbolismos. É uma obra que sem dúvida exige que o espectador seja ativo ao assisti-lo.

Nota: 7.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Ema
Data de lançamento: 24 de janeiro de 2020 (1h 47min)
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Mariana di Girolamo, Gael García Bernal mais
Gêneros: Drama, Filmes com música
Nacionalidade: Chileno