“Borat 2: Fita de Cinema Seguinte” dá sequência ao filme de 2006 e traz Borat de volta aos Estados Unidos com uma nova missão a cumprir: dar um presente ao Vice-Presidente do país, Mike Pence. O problema é que agora Sacha Baron Cohen é uma pessoa conhecida e terá que se disfarçar para não ser reconhecido.

O filme está disponível na Amazon Prime.

Mais político e perigoso

Nenhum filme vive em um vácuo, o cinema é uma arte altamente influenciada pelas relações sociais e políticas de seu tempo. Dessa forma, “Borat 2: Fita de Cinema Seguinte” surge com o claro propósito de tumultuar as eleições americanas e evidenciar a estupidez e a hipocrisia daqueles que estão no poder. Mais uma vez seguindo a proposta de um falso-documentário, o longa não precisa necessariamente acusar essas pessoas, já que essas o fazem sozinhas, sem nenhuma vergonha de seus atos e discursos.

Assim, “Borat 2” se torna ainda mais político do que seu predecessor, que já tinha uma carga crítica a muitos valores da elite americana, e, por consequência, mais perigoso. Sacha Baron Cohen nunca foi um ator de se intimidar com o perigo, mas aqui ele corre risco de vida como nunca antes, chegando a cantar fantasiado em um comício de extremistas de direita armados.

O ator e roteirista também não tem medo de expor figuras públicas em seu segundo longa, algo que ele fazia sobretudo com desconhecidos no primeiro filme. A cena de Rudy Giuliani, em que câmeras escondidas foram colocadas no quarto de hotel, é o maior exemplo disso.

E, nesse sentido, Sacha continua sendo efetivo ao criar humor por meio do absurdo e da vergonha alheia. A narrativa centrada em um personagem altamente preconceituoso e que valoriza a morte daqueles que não gosta ajuda a demonstrar as mudanças vividas pelo mundo nesses 14 anos. No primeiro filme, a obra era capaz de retratar tudo de mais podre da sociedade americana, mas poucos tinham coragem de concordar com os pensamentos de Borat abertamente, pelo contrário, muitos o tratavam como inferior por causa de sua origem. Já no segundo, é chocante perceber como o personagem é aceito por grande parte justamente pelas teorias da conspiração que acredita. É como se não houvesse mais vergonha em ser racista, misógino, xenófobo, neonazista, entre outros valores torpes.

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Mais roteirizado, menos mockumentary

Apesar de continuar colocando pessoas reais em situações desconfortáveis em frente à câmera, “Borat 2” é muito mais roteirizado do que o primeiro longa e perde bastante da sagacidade do formato mockumentary, o que é compreensível, visto que agora Sacha é um figura conhecida e não teria como se passar por uma pessoa real como no primeiro longa. Por isso, ele aposta no uso de de fantasias para poder continuar dando vida ao personagem, o que gera bons momentos.

E, mesmo que a obra continue funcionando no formato de várias mini-sketches, o segundo filme da um peso maior para as relações centrais do filme. Aqui, o produtor do personagem é substituído por sua filha, interpretada por Maria Bakalova e capaz de se manter a altura de Sacha durante todo o longa. Destemida e capaz de protagonizar cenas para lá de desconfortáveis (como a dança), a personagem vive um arco de autodescoberta e obriga seu pai a rever os próprios conceitos, criando assim um bom arco de aproximação entre pai e filha.

Entretanto, é bem verdade que esse formato mais convencional tira um pouco da graça e da originalidade daquilo que era a grande força de “Borat”. Mas, eu me pergunto também se seria possível sustentar mais um filme inteiro como falso-documentário. Mais do que isso, a repetição não perderia a originalidade e, por conseguinte, parte do humor? Eu acredito que sim. Por isso, tais escolhas impedem o segundo filme de chegar próximo daquilo que era o seu predecessor, mas são capazes de dar vida a mais uma boa jornada, ao mesmo tempo que consegue continuar sustentando alguns elementos do humor crítico e político da agora franquia.

Nota: 7.5

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Borat: Subsequent Moviefilm
Data de lançamento: 23 de outubro de 2020
Direção: Jason Woliner
Elenco: Sacha Baron Cohen, Maria Bakalova
Gêneros: Sátira política
Nacionalidade: EUA